sábado, 16 de maio de 2015

Como criar poesias - parte 01




Escrever poesia é uma tarefa árdua, não basta sair jogando palavras bonitas ou complexas aleatoriamente na desculpa de que o texto possui diversas interpretações. A ambiguidade faz parte da poesia, claro; mas o autor deve saber muito bem qual a mensagem que ele quer passar, pois o que os leitores irão absorver é consequência do imaginário de cada um deles. 

O poeta conta com um recurso extraordinário que concede bastante liberdade aos poemas que é a chamada licença poética, esta coisinha permite que o criador abuse da criatividade e crie verdadeiros experimentos e brincadeiras com as palavras. Aí é que o bicho pega, até que ponto devemos usar este recurso? É preciso conhecer todos os termos e tipos de poesia para fazer um bom trabalho poético? A poesia deve ser formal ou informal? Bom, são muitas perguntas que, como as poesias, poderão resultar em respostas vagas, abertas à interpretação de cada um. Irei postar aqui algumas dicas para auxiliar você na criação de versos, estrofes, métricas etc. Vamos por partes...


1. Vocabulário poético:

Poema - obra em verso, arte retratar a poesia.

Poesia - arte de escrever em versos.

Verso - é cada uma das linhas da poesia.

Estrofe - é o conjunto de versos. É como se fosse o parágrafo da poesia.

Métrica - é a medida (o tamanho) de cada verso. A medida de um verso é indicada pelo número de sílabas que ele apresenta. Um verso de dez sílabas é um decassílabo, por exemplo. Esta contagem vai até a última sílaba tônica no verso. Ex: A/me to/do di/a co/mo se fos/se o úl/ti/mo (este é um verso de 13 sílabas (o "ti" e o "mo" não são contabilizados, pois a última sílaba tônica do verso é "úl"). A rigidez da métrica era muito comum nos trabalhos de poetas antigos, atualmente, é mais frequente encontrarmos os versos livres, que é como são chamados os versos sem número exato de sílabas, que são variantes de verso para verso.

Eu lírico - nem sempre é o próprio autor que se expressa na poesia. O eu lírico é o personagem do poema, aquele que está expressando os versos, o sujeito no qual a poesia gira.

Rima - coincidência de sons entre palavras, geralmente ocorre no final dos versos.


2. Estrutura da poesia:

Abaixo transcrevi um trecho de minha poesia Universo para mostrá-los a estrutura da poesia, mostrando os termos que citei acima:

Estrofe:
"Ora, quem sou eu   < verso
Para definir algo que pode ser nada
Ou/ tu/do ao/ mes/mo/ tem/po? < métrica - 7 sílabas
Co/mo pos/so con/cei/tu/ar < métrica - 8 sílabas
O incomensurável que és < rima A
Não chego nem à molécula < rima B
Nem à partícula ou célula < rima B
De teus pés." < rima A

Eu lírico - o personagem desta poesia é, provavelmente, um cientista ou um admirador da magnitude do universo, poderia ser um astrólogo, por exemplo.

Note que a estrofe é composta por versos livres, ou seja, não tem um métrica fixa, variando de verso para verso.

Meu conselho é que você não se preocupe muito com a métrica, jorre suas ideias como achar melhor e adapte elas depois, ritmando com os outros versos da poesia. Encare a poesia como uma joia, você vai encontrá-la (ou melhor, ela vai te encontrar) no estado bruto, você vai ver que dentro dela existe uma beleza brilhante, então vai lapidá-la, e, ao fazê-lo, poderá confeccionar um magnífico diamante.


3. Recursos:

O poeta se comunica através de sons e imagens, e às vezes até por meio de odores. Há uma série de recursos poéticos que podem auxiliar você a transmitir estas sensações, um dos mais poderosos é a rima.

Rimas

*Todas as poesias nos exemplos foram criadas por mim.
Elas podem ser, quanto às suas posições:

- Alternadas (ABAB):

"Para que chorar < A
Se posso viver < B
A vida a amar < A
Até morrer?" < B

- Interpolada (ABBA):

"A vida é breve < A
Não gaste tempo < B
Ele voa como o vento < B
Em brisa leve." < A

- Emparelhada (AABB):

"Não diga agora
Que vai embora
Nem dê adeus
Aos sonhos meus."

- Internas (rimam o fim do verso com o interior do verso seguinte):

"Da morte roubei um beijo
Um queijo na ratoeira
Caí na besteira do desleixo
O queixo na ribanceira"

- Mistas (não tem posição fixa):

"Ó, grande rocha cadente
Em crescente tocha expande
Grossa mancha luminescente
Abrindo crosta gigante
Minguante agonia em prosa."

- Versos brancos ou soltos (versos sem rima):

"Uivante dor que me traga
Que me trazes
O oceano destilado
Condensando meu sofrer..."


Continua...

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